“EU MESMO DARIA 20 ANOS DA MINHA VIDA PARA VÊ-LO VIVENDO MAIS”, DIZ MÉDICA CUBANA QUE TRABALHA EM R. POMBAL SOBRE A MORTE D FIDEL

No seu consultório, na unidade básica de saúde do Pombalzinho, minutos antes de começar a atender os pacientes, a médica cubana Yaney Padilla León, recebeu a Reportagem da Pombal FM, para falar sobre a morte de Fidel Castro. Confira abaixo a entrevista na íntegra, que foi exibida ontem ao vivo no Programa Rádio Revista e será reapresentada nesta terça-feira,29, no Programa Studio 90 a partir do meio dia e meia.

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                          Médica cubana Yaney Padilla León 

R P FM- Como a senhora recebeu a notícia sobre a morte de Fidel Castro?

Y. P. L- A morte de Fidel Castro foi muito difícil para mim e para todo povo cubano. Fidel é uma das maiores figuras representativas do mundo. A gente amava muito ele, inclusive em Cuba até as crianças amam muito Fidel. Está sendo muito difícil aceitar a morte dele. Eu mesma daria vinte anos da minha vida para vê-lo vivendo mais, para que todo mundo pudesse desfrutar das suas ideias, pelo que a gente viveu, o que ele ensinou a gente, valores, a crescer como ser humano. No meu país até o filho da pessoa mais pobre tem direito a fazer faculdade. A gente tá sentindo muito a morte dele.

R P FM- O que esperar do irmão dele Raul Castro?

Y. P. L- Raul Castro tem a mesma linha de trabalho, as mesmas ideias que Fidel. Acho que Cuba vai continuar a mesma coisa sempre porque as ideias são para o povo. Até as crianças mais pequenas choram a morte de Fidel. Ontem estava falando com minha mãe e minha filha estava chorando a morte de Fidel. E minha filha só tem 9 anos. O povo todo chorou nas ruas pela morte dele.

R P  FM- O que a senhora tem a dizer sobre aquelas pessoas em Cuba que estavam comemorando a morte de Fidel?

Y. P. L- Eu não sei como existem pessoas que se põem a comemorar a morte de alguém, de uma figura com tanto valor, tão humana, que ajudou a tantos países do mundo. Fidel é uma figura muito representativa porque se não fosse assim não estariam todas as rádios, todos os jornais, todas as emissoras de televisão falando dele.

R P FM- A senhora acha que a imprensa brasileira passa aquilo que de fato Cuba é, que de fato Fidel é ou há uma distorção da imagem de Fidel e de Cuba?

Y. P. L- Há uma distorção da imagem. Falam que é ditador. Isso não é assim não. Eu estava assistindo a televisão chamando Fidel Castro de ditador. E não é bem assim. De onde vem igualdade de direitos? De onde vem todo mundo ter as mesmas possibilidades? Todo mundo tem acesso as mesmas coisas. Eu não acho que isso seja uma ditadura, inclusive falar do que você pensa, do que você sente, do que você quer; andar pelas ruas sem medo, sem que ninguém faça nenhum mal contra você. Você pode deixar até uma criança dormindo na rua e não acontece nada com ela. Isso não é uma ditadura.

R P FM- E essas notícias de que em Cuba faltam produtos, filas em restaurantes. Isso de fato existe?

Y. P. L- Sobre filas em restaurantes não é verdade. Em Cuba existem bons restaurantes. Muitos particulares, muitos do governo. Claro que já existiu a escassez de produtos por causa do bloqueio econômico, mas agora melhorou um pouco porque melhorou o relacionamento com os Estados Unidos. Mas de fato a gente sempre teve acesso a todos os produtos básicos para um ser humano. Inclusive passou ontem na televisão um cubano dizendo que nunca faltou nada a ninguém, inclusive para a pessoa mais pobre de Cuba. Pelo menos a cesta básica o governo dá acesso a ela.

R P FM- E o fato de a pessoa não poder escolher o presidente, de não ter eleição? Isso não é ditadura?

Y.P.L- Para mim não. E não é bem assim. Socialismo é uma coisa diferente do Capitalismo. Em cuba o povo vota para a formação das organizações, como os comitês em defesa da Revolução. A gente discute programas dos governo, as opiniões do povo são levadas em conta. É o povo quem vai a essas votações.

R P FM- Qual a diferença da saúde de Cuba para a saúde no Brasil?

Y.P.L – Tem muita diferença. Cuba é um país de primeiro mundo em saúde. Em Cuba todo mundo tem acesso à saúde, e sem demora. Se você precisa de uma cirurgia hoje, é feita a sua cirurgia hoje. Não é para amanhã, não é para outro dia. Acesso a todos os serviços, inclusive aos serviços mais complexos que você possa imaginar, qualquer tratamento que você precisar, custe o que custar ao governo, e tudo graça. Educação e saúde em Cuba são gratuitas até o último nível, até a faculdade é gratuita. Tudo isso vem do governo cubano.

R P FM- É fácil se tornar um médico em Cuba, muito diferente do Brasil, onde só as elites conseguem formar filhos médicos?

Y.P.L- É muito fácil. Em Cuba, desde quando a gente começa pequenininha na escola, começa também a formação vocacional. Os professores vão analisando o interesse de cada criança. A gente se prepara desde pequeno para o que a gente quer ser. Em Cuba tem vestibulares, a gente faz vestibular, segundo a vocação e segundo os conhecimentos. A gente tem acesso à educação superior. É fácil se tornar médico em Cuba. Fácil no sentido de entrar na faculdade, mas depois depende de cada pessoa porque é muito rígida a faculdade. A gente tem que estudar muito. São seis anos de faculdade, depois a gente tem que fazer pós-graduação. Tem acesso de graça até ser pós-graduado.

R P FM- A sua mensagem neste momento em que Cuba está de luto pela morte de Fidel Castro.

Y.P.L- Cuba está de luto mesmo. Todo mundo está sentindo muito. Cada um que se sinta cubano vai jurar desde agora até o último dia de sua vida pela morte de Fidel porque ele foi um grande homem. É muito difícil falar dele porque falar de um grande homem, é difícil. Não temos as palavras para expressar coisas sobre ele. Muito difícil buscar palavras para falar de Fidel.

R P FM- A senhora já conversou sobre a morte de Fidel com as outras duas médicas cubanas que atuam também aqui em Ribeira do Pombal?

Y.P.L- A gente já falou. Todo mundo está muito arrasado pela morte de Fidel. Realmente foi uma notícia que a gente não esperava, a gente nunca se prepara para isso. Pelo menos eu. Quando ele ficou doente, eu estava no segundo ano da faculdade. Pensava que naquele momento iríamos perdê-lo.

Redação e fotos localhost/sitepombal