Cinquenta e um mil hectares de vegetação foram devastados nos três últimos meses pelo fogo na região da Chapada Diamantatina, na Bahia. O número equivale a aproximadamente 3.500 estádios do Maracanã. Do total, 15 mil hectares atingidos pelas chamas ficam dentro do Parque Nacional, que é uma área de preservação ambiental que abrange seis municípios.
O dado foi divulgado ao G1 nesta quarta-feira (16) pelo secretário estadual de meio ambiente do estado, Eugênio Spengler, e corresponde ao período entre 11 de setembro e 4 de dezembro. “Além do Parque, o restante da área atingida está distribuído em várias regiões como Rio de Contas, Andarai, Ibicoara, Barra da Estiva, Morro do Chapéu”, disse.
“Assim que desafogarmos o combate, complementaremos a informação a respeito da área queimada e da estimativa de prejuízos econômicos. Vamos tentar identificar culturas que podem ter sido atingidas e tentar mensurar, com maior detalhamento possível, impacto sobre fauna, flora e número de nascentes de rio atingidos.”, destacou.
Apesar da proximidade das festas de fim do ano, como o réveillon, a farta rede de hospedaria da Chapada, destino de turismo de aventura mundialmente conhecido, sente a redução do número de visitantes devido aos incêndios. Proprietários dos principais hotéis e pousadas da região afirmam que tiveram baixa de até 50% nas reservas, em comparação com o ano passado.
O secretário informou que o trabalho de combate ao fogo conta com mais de 150 militares da Bahia e do Distrito Federal. “Temos média de 150 militares e de 50 brigadistas voluntários que se somam ao esforço de combate. São mais de 35 dias combatendo. Agora, o combate está em Lençóis, Palmeiras e na região do Morro Branco. Há focos em Ibicoara, Andaraí, na região das Paridas e dentro da APA Iraquara. Essa região [APA Iraquara] tem bastante patrimônio histórico, como pinturas rupestres. É um sitio arqueológico e, além disso, são regiões de difícil acesso”, destacou o secretário.
Após intenso combate de brigadistas voluntários, o fogo foi controlado na trilha da Cachoeira da Fumaça, e o principal ponto de visitação turística no Vale do Capão, que pertence à cidade de Palmeiras, foi reaberto. Agora o fogo se concentra na Serra do Veneno, que fica perto da cachoeira do Palmital e da Capivara, na região da cidade de Lençóis, de acordo com a Associação dos Condutores de Visitantes local (ACV-VC).
De acordo com Pedro Meza, voluntário da ACV-VC, turistas já podem entrar na trilha nesta quarta-feira (16). “Já está tranquilo. Aqui no Capão, o fogo foi totalmente controlado. Não oferece mais nenhum risco à comunidade e às casas”, disse . O fogo queimou parte significativa da vegetação da trilha, contou. “A trilha foi bem prejudicada. Praticamente aqui na serra, no terceiro mirante até a cachoeira, na parte da esquerda da trilha, foi totalmente queimada”. Cerca de 70 voluntários atuaram no combate às chamas, que chegaram a ameaçar a comunidade.
Na terça-feira (15), Vanessa Matos, da assessoria do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, informou que a corporação atua na região com 106 bombeiros voluntários e que mais uma tropa de Brasília ajuda no combate às chamas.
Segundo Marcela de Marins, analista ambiental do Parque Nacional da Chapada, um foco foi extinto na reguião da Gruta do Lapão, em Lençóis, mas outro surgiu na Serra do Veneno, no mesmo município. “Esse novo foco surgiu perto do Rio Ribeirão, mas as equipes já estão concentadas, realizando o combate”, destacou, em contato com o G1.
No município de Palmeiras, o foco de incêndio na área do Morro Branco, que já tinha sido dado pelos brigadistas como controlado, aumentou e, conforme Marcela, o fogo segue em direção à área que compreende o Rio Capivara.
Já na cidade de Ibicoara, ainda segundo a analista ambiental, ocorreu o agravamento do incendio na área de floresta na região próxima à Mata do Baixão, povoado que fica no sul do Parque Nacional da Chapada. A secretária de turismo de Ibicoara, Tatiana Portela, disse que o fogo que atinge a região há cerca de 10 dias foi ocasionado pela queda de raios.
Ela disse que dois locais que são atrativos para visitação, as regiões da Fumacinha e Véu de Noiva, permanecem interditados. Os demais pontos turísticos no município não foram atingidos.
“Os focos surgiram por causa de raios durante as últimas chuvas. Foram ao todo três raios que caíram na região e acabaram ocasionando esse incêndio. Há alguns dias, conseguimos controlar, mas como é area de mata atlântica extensa e devido as altas temperaturas, o fogo voltou. A situação está complicada. A Chapada está em estado de risco eminente”, afirmou.
Ainda conforme a secretária, a preocupação dos brigadistas é tentar novamente controlar as chamas para impedir que o fogo avance sobre a comunidade. “Á área de mata onde ocorre o inêndio tem proximidade da comunicade. Caso não for debelado, o fogo pode avançar no sentido da comunidade Mata do Baixão. Mas tem bastante gente combatendo. Temos brigadistas do ICMBio, da cidade de Barra da Estiva e brigadistas locais”, destacou.
Defesa Civil
Para ampliar o combate ao incêndio na Chapada Diamantina, o Governo da Bahia enviou para a região 47 brigadistas da Defesa Civil Nacional na quarta-feira (16). Na segunda (14), a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) contratou mais dois helicópteros para o uso na luta contra o fogo na Chapada.
O governo também aplicou R$ 500 mil na compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para atender brigadistas voluntários no combate ao fogo. A operação coordenada por meio do programa Bahia Sem Fogo conta com 60 bombeiros militares, 40 brigadistas, oito peritos, quatro veículos tracionados, cinco helicópteros e seis aviões.
A Secretaria de Comunicação informou que o governo estadual já foi notificado sobre a decisão judicial que determina o oferecimento de itens específicos para o combate ao fogo na regiãoe que está atendendo a decisão.
Combate ao fogo
A Brigada Voluntária do Vale do Capão, em Palmeiras, informou que os brigadistas estão desde a manhã de terça-feira na Serra da Larguinha e em Boqueirão, com o objetivo de analisar o risco do incêndio que já foi controlado retornar.
De acordo com a associação de guias, atrás do Morro Branco ainda existem diversos pequenos focos de incêndio, mas nenhum deles ameaça o Vale do Capão. Outro foco, que está sem controle, segue atrás da Serra da Moitinha para a região do rio Ancorado.
A brigada também informa que na Serra do Palmital também existe uma grande linha de fogo, em um local de difícil combate, que segue para o Córrego da Muriçoca e para o rio Capivara.
Fonte: G1 O Portal de Notícias da Globo