O ano de 2021 começou com o assassinato de Keron Ravach no Ceará. Aos 13 anos, a adolescente transexual foi morta com socos, pedradas, pauladas, facadas, teve os olhos perfurados e a roupa introduzida no ânus.
Crimes contra pessoas transgênero, com extrema violência como o de Keron, estão em alta no país. Em 2020, ao menos 175 mulheres transexuais foram assassinadas em 2020, de acordo com relatório da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil) e do IBTE (Instituto Brasileiro Trans de Educação).
Em 2019, o país havia registrado ao menos 124 mortes -como se trata de dados subnotificados, estima-se que o número seja maior. Com isso, o aumento das mortes neste ano em relação ao ano passado foi de 41%.
Nesta sexta-feira (19), o país comemora o Dia da Visibilidade Trans, população alvo de crimes de ódio e violência crônica no país.
As mortes no ano passado estão acima da média registrada desde 2008, de 122,5 assassinatos por ano.
“O ano de 2020 revelou aumento de 201% em relação a 2008, o ano que apresentou o número mais baixo de casos relatados, saindo de 58 assassinatos em 2008 para 175 em 2020. Mesmo durante a pandemia, os casos tiveram aumento significativo de acordo com o publicado nos boletins bimestrais ao longo de 2020”, diz o documento da Antra.
No período monitorado pelo estudo, apenas em 2017 houve mais mortes que no ano passado, um total de 179.
O estado de São Paulo lidera as mortes, com 29 casos e um aumento de 38% em relação a 2019. Trata-se do segundo aumento consecutivo -no ano passado já havia tido uma alta de 50%.
Atrás de São Paulo vêm Ceará (22), Bahia (19), Minas (17) e Rio de Janeiro (10).
“São Paulo, Ceará, Bahia e Rio de Janeiro aparecem entre os cinco primeiros estados com mais assassinatos de pessoas trans desde 2017. Durante o ano de 2020, o Ceará chamou a atenção das mídias pelos recorrentes casos entre julho e agosto, somando nove assassinatos somente nesses dois meses”, afirma o relatório.
Apesar da liderença de São Paulo em mortes, por região é o Nordeste que concentra o maior número de casos –43%, ou 75 assassinatos. Em seguida, vêm Sudeste (59), Sul (14) e Norte (13).
A maior parte das vítimas tem entre 15 e 29 anos, é negra, pobre e expressa o gênero feminino. Segundo o relatório, a prostituição é a fonte de renda mais frequente e os crimes ocorrem em vias públicas desertas, durante a noite.
Os casos acontecem com violência excessiva e são praticados, na maioria das vezes, por pessoas sem relação direta ou afetiva com as vítimas.
“É constante a ausência, a precariedade e a deficiência de dados, muitas vezes intencionalmente, usados para ocultar ou manipular a ideia de uma diminuição dos casos em determinada região”, diz o documento.
A falta de padronização dos dados leva a uma maior subnotificação dos crimes. “Isso faz aumentar ainda mais a dificuldade na busca desses dados, além de invisibilizar a motivação do caso e aumentar a subnotificação”, afirma o relatório.
Segundo o documento, há inclusive colaboração da mídia para essa invisibilidade da população transexual, uma vez que há notícias reportando mortes de travestis como “homens vestidos de mulher” ou também de homens trans como lésbicas.
O documento da Antra é assinado por Bruna G. Benevides e Sayonara Naider Bonfim Nogueira.
Fonte: bahianoticias
Foto: Reprodução/Pixabay